sexta-feira, 7 de agosto de 2015

CMV-JF entrega livro em café na OAB

A Comissão de Direitos Humanos da OAB promoveu, na manhã desta sexta-feira, um café para as faculdades de Direito de Juiz de Fora, objetivando trazer para a cidade o Circuito Universitário de Cinema. Este projeto, que visa difundir a exibição de filmes relacionados à defesa dos direitos humanos, foi lançado pelo Instituto Cultura em Movimento, Ministério da Cultura e MPC Produções.

A CMV-JF participou do evento e entregou exemplares do livro "Memórias da Repressão" às Diretoras das instituições.

Estiveram presentes Helena da Motta Salles, que foi a última presidente da CMV-JF e Cristina Couto Guerra, última vice-presidente, além de Júllia Aranha Amaral (agente mobilizadora de MG do Circuito Universitário de Cinema) e membros da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da OAB (da qual a Cristina Guerra é coordenadora).


Na foto: Renata Menezes de Jesus (Estácio de Sá), Cristina Couto Guerra, Helena da Motta Salles, Célia Maria da Silva Fassheber (Vianna Jr.), Laira Rachid (Doctum), Cláudia Vieira Campos (vice-presidente OAB-JF) e Rubens de Andrade (tesoureiro OAB-JF).


quinta-feira, 6 de agosto de 2015

CMV-JF participa de debate na Rádio CBN

No debate da CBN de Juiz de Fora, Helena da Motta Salles, presidente da CMV-JF, e Cristina Guerra, vice-presidente, fazem um balanço dos trabalhos da Comissão. "Foi como desenrolar um novelo, fizemos muitas pesquisas até chegar às informações." diz Cristina Guerra.



quarta-feira, 15 de julho de 2015

Relatório final é publicado como livro

Acesse aqui a íntegra do ebook "Memórias da repressão: relatório da Comissão Municipal da Verdade de Juiz de Fora".


CMV-JF disponibiliza versão digital do livro "Memórias da Repressão: relatório da Comissão Municipal da Verdade de Juiz de Fora"

      A publicação do relatório da Comissão Municipal da Verdade de Juiz de Fora representa a reunião dos esforços de seus integrantes e colaboradores de entidades parceiras, com o objetivo de prestar contas à sociedades das atividades realizadas durante um ano de funcionamento da CMV-JF. Criada pela Lei 12.643/12 e regulamentada pelo Decreto 11.922/14 do Executivo Municipal, a Comissão entrou em funcionamento em 2014 e encerrou suas atividades em 2015 com este documento. Em interação com a Comissão Nacional da Verdade e outras comissões regionais, a CMV-JF concentrou os esforços na tentativa de compreender como o sistema repressivo funcionou em Juiz de Fora durante a ditadura militar (1964-1985) e de lançar novos olhares sobre os casos de graves violações dos direitos humanos (como torturas, mortes, desaparecimentos forçados e ocultação de cadáveres ocorridos na cidade ou envolvendo juiz-foranos em outras localidades, mas também às perseguições políticas cotidianas que costumam ficar esquecidas. Muitos casos ainda apresentam lacunas para que sejam de fato elucidadas as circunstâncias em que ocorreram, mas o propósito da CMV-JF foi, principalmente, o de localizar e organizar a documentação sobre o regime para facilitar o acesso da sociedade às informações encontradas. Dessa forma, a Comissão alcança o objetivo de abrir espaço para que novas investigações sejam feitas a partir do material coletado e agora disponibilizado à população. Neste relatório encontram-se o detalhamento de todas as atividades realizadas entre abril de 2014 e março de 2015, os resultados dos estudos desenvolvidos pelos pesquisadores que colaboraram com os trabalhos, bem como as recomendações para que o poder público e a comunidade possam lidar com suas memórias e reconstruir as narrativas desse período. Fica o convite para que a sociedade lance olhar acurado sobre o regime ditatorial pelo qual o Brasil se viu mergulhado por 21 anos.

Acesse o ebook através do link.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Comissão da Verdade lança livro com relatório dos trabalhos

Obra com 272 páginas é o primeiro documento público elaborado
 em Juiz de Fora com o objetivo de descrever de forma ampla o sistema repressivo que funcionou na cidade entre 1964 e 1985


Reuniões, investigações, visitas a órgãos públicos, busca em arquivos, coleta de depoimentos e um árduo trabalho de pesquisa realizados durante um ano resultaram no livro “Memórias da Repressão – Relatório da Comissão Municipal da Verdade”, que será entregue à população em lançamento no próximo dia 1º de julho, às 19h30, na Câmara Municipal de Juiz de Fora. A publicação representa o primeiro documento público produzido em âmbito municipal com o propósito de contextualizar o sistema repressivo.
A obra representa a versão para o público do relatório que foi entregue às autoridades no mês de abril e reúne em seis capítulos e 272 páginas o que se conseguiu apurar no curto período de funcionamento da Comissão Municipal da Verdade de Juiz de Fora (CMV-JF). Além da tiragem de mil exemplares – impressos com recursos da OAB Subseção Juiz de Fora, da Caixa de Assistência dos Advogados e da UFJF – que serão doados a bibliotecas, arquivos, instituições de ensino e entidades parceiras, a versão “e-book” ficará disponível pela internet, a partir de acesso aberto e gratuito.
Fruto do somatório das memórias daqueles que vivenciaram a repressão em Juiz de Fora e de documentos que permitem contextualizar o período, o livro procura iluminar uma parte da história que ainda se encontra oculta – ou pouco difundida. Além de trazer algumas respostas, a obra deixa também perguntas, introduzindo temas e documentações com potencial para subsidiar futuras pesquisas sobre o assunto.
São reproduzidos no livro diversos documentos, comprovando as memórias relatadas por quem vivenciou o período, sendo vítima ou testemunha das violações dos direitos humanos, e também trechos dos 37 depoimentos concedidos à CMV-JF bem como de depoimentos prestados a comissões e comitês parceiros, trazendo à
tona os sentimentos dos que tiveram a vida marcada pelo regime ditatorial.
A Comissão buscou não apenas relembrar os casos emblemáticos, amplamente difundidos e que envolvem personagens notórios, mas também dar espaço às memórias de cidadãos comuns que foram afetados pelo sistema repressivo.
No último capítulo, as conclusões e as recomendações da CMV-JF para os órgãos públicos e a sociedade civil representam a chave com que se fecha o trabalho e alguns instrumentos para ajudar na consolidação democrática.




segunda-feira, 6 de abril de 2015

Relatório da CMV-JF é entregue aos Poderes Executivo e Legislativo

A Comissão Municipal da Verdade de Juiz de Fora (CMV-JF) entregou, na manhã desta segunda-feira, o relatório final dos trabalhos aos representantes dos poderes Executivo e Legislativo. Uma via do documento foi entregue também à subseção Juiz de Fora da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e à Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), que foram parceiras dos trabalhos.

Os integrantes da comissão foram recebidos no auditório da Prefeitura, em solenidade que contou com a presença do prefeito Bruno Siqueira, do presidente da Câmara, Rodrigo Mattos, da Diretora de Ações Afirmativas da UFJF, Maria Elizabete de Oliveira, representando o reitor Júlio Chebli, e da presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB, Cristina Couto Guerra, que também integra a CMV-JF.

A presidente da CMV-JF, Helena da Motta Salles, agradeceu à Prefeitura e à Câmara Municipal pela iniciativa de criar a comissão e à OAB e UFJF pela parceria, que ajudou a viabilizar os trabalhos. A 4ª Circunscrição da Auditoria Militar também foi lembrada como parceira na descoberta e divulgação de documentos.

Helena destacou que muitos depoentes encontraram nos trabalhos da comissão a primeira oportunidade para falar sobre as violações dos direitos humanos, que envolveram perseguição e tortura. A presidente também ponderou que a quantidade de documentos reunida pelo colegiado é extensa e que o trabalho da comissão não esgotou o tema, deixando aos pesquisadores um vasto material para pesquisas futuras.

Prefeito Bruno Siqueira recebe das mãos de Helena Motta o relatório (Foto: Leiliane Germano) 
O relatório tem seis capítulos distribuídos em mais de 270 páginas e marcou a finalização dos trabalhos de investigação. No momento o relatório foi entregue apenas às autoridades, e em breve será lançado em forma de livro e disponibilizado através de um site, no qual também constarão os documentos e os depoimentos.

O prefeito Bruno Siqueira pontuou o momento de debates em que se encontra a sociedade atualmente e afirmou que a luta de ideias é melhor do que a luta de armas na busca e consolidação da democracia. Destacou, também, a importância dos trabalhos da Prefeitura em prol da transparência. O prefeito ainda ressaltou a relevância de Juiz e Fora no cenário nacional e as tristes lembranças das passagens de presos políticos pela cidade, o que incluiu a presidente da República, Dilma Rousseff, o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, e o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda.

O presidente da Câmara, vereador Rodrigo Mattos, destacou a importância dos trabalhos da comissão, que representou a união no propósito de reafirmar o apreço pela democracia, e colocou a Câmara à disposição da população. Ele lembrou ainda dos trabalhos feitos pelo Executivo para restituir os mandatos dos vereadores cassados durante a ditadura.

Segundo a coordenadora do projeto de extensão fruto do convênio da UFJF com a CMV-JF, Christina Musse, os resultados das pesquisas são importantes não apenas para o projeto “Memórias possíveis: depoimentos da Comissão Municipal da Verdade”, mas pela possibilidade de incentivar novas frentes de trabalhos. “A abertura de áreas de investigação científica será beneficiada, pois, a partir de agora, os pesquisadores do projeto e todos os outros que tiverem interesse, poderão desenvolver ações e novas pesquisas sobre a ditadura na cidade. Assim, a UFJF também cumpre uma de suas missões, que é contribuir para uma sociedade mais fortalecida e democrática.” 

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Comissão Municipal da Verdade entrega relatório final às autoridades

Em solenidade na Prefeitura, comissários repassarão aos chefes dos poderes Executivo e Legislativo resultados de um ano de investigações

Na próxima segunda-feira, dia 6, às 11h, a Comissão Municipal da Verdade de Juiz de Fora (CMV-JF) fará a entrega do relatório final de atividades aos representantes dos poderes Executivo e Legislativo. Receberão também uma via do documento a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) - subseção Juiz de Fora, e a reitoria da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). O ato marca a conclusão dos trabalhos de pesquisa e investigação que se desenvolveram ao longo de um ano e culminaram com a redação do relatório.
O texto, que será divulgado à sociedade em breve e transformado em livro, contextualiza as violações de direitos humanos ocorridas em Juiz de Fora ou envolvendo juiz-foranos em outras localidades, e apresenta um panorama geral do sistema repressivo que funcionou na cidade durante o período da ditadura militar (1964-1985). Com o auxílio de pesquisadores da UFJF, a comissão buscou não apenas descrever os casos emblemáticos, como também entender o perfil das vítimas. A Justiça e a legislação de exceção e o impacto da ditadura sobre as instituições juiz-foranas também foram objeto de estudo do grupo de trabalho.
Segundo a presidente da comissão, Helena da Motta Salles, “o relatório é o resumo de um esforço de pesquisa cujo mérito principal talvez seja o de revelar o quanto a própria cidade conhece pouco o seu passado e o quanto ainda tem a desvendar.” Ainda que muitas descobertas tenham sido feitas, a CMV-JF está certa de que há muito que se conhecer. Por isso, o texto também apresenta uma série de recomendações à sociedade e ao poder público visando à continuidade das pesquisas e do levantamento de informações, ainda que por outros órgãos.

Os membros da comissão serão recebidos pelo prefeito Bruno Siqueira e pelo presidente da Câmara Municipal, Rodrigo Mattos, em uma solenidade simples, sem a participação da população. Como parceiras e financiadoras dos trabalhos CMV-JF, a UFJF e a OAB também estarão presentes.


Material ficará acessível a todos

O ato simboliza o encerramento das investigações do colegiado, conforme estabelecido em lei. Contudo, na prática, a CMV-JF não vai se extinguir totalmente, pois os comissários continuarão atuando por pelo menos mais dois meses, com o propósito de reunir e organizar todo o material conseguido, garantir a impressão do relatório em formato livro e inaugurar um site que permitirá à sociedade ter acesso à íntegra do relatório e também a fotos, depoimentos e documentos que instruíram as pesquisas. Cada instituição de ensino da cidade será presenteada com uma versão do livro, a ser lançado em breve.

As parcerias estabelecidas entre a CMV-JF, a OAB e a UFJF foram decisivas para transformar o relatório em instrumentos mais acessíveis à população (livro e site com a versão digital), de forma que, nas palavras da presidente, a sociedade “tome conhecimento dos erros do passado para que não se repitam”.

Os sete integrantes da comissão compartilham a expectativa para o lançamento do livro, que será aberto à sociedade e terá como convidados especiais os depoentes e aqueles que colaboraram com os trabalhos. Ao todo, 37 pessoas prestaram depoimentos à CMV-JF, mas o colegiado também teve acesso a outros 18 relatos de vítimas feitos ao Comitê pela Memória Verdade e Justiça de Juiz de Fora ou ao projeto “Marcas da Memória”, da Comissão de Anistia. Todos esses depoimentos foram transcritos e, a partir do lançamento do livro e do site, ficarão à disposição para consulta.

Ainda que os trabalhos de pesquisa e investigação tenham alcançado o objetivo, a CMV-JF tem consciência de que o relatório é apenas mais uma forma de que a cidade conviva com o seu passado traumático e de que as novas gerações tenham conhecimento de algumas narrativas sobre o que ocorreu durante a ditadura. As pesquisas realizadas no curto período de um ano jamais esgotarão a complexidade que o regime autoritário representa. Por isso, mais do que revelar “a verdade” a comissão deseja trazer questões e apontamentos para que os cidadãos juiz-foranos sejam provocados a refletir, a pesquisar, a descobrir novas informações.

Segundo Helena da Motta Salles, “embora o relatório não tenha conseguido exaurir todas as informações contidas na documentação recolhida, que é imensa, a CMV-JF conseguiu organizar um material muito expressivo, que servirá de fonte para pesquisas futuras”.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Relatório da Comissão Municipal da Verdade vai virar livro

Com o auxílio da Caixa de Assistência dos Advogados (CAA), da 4ª Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), o relatório que a Comissão Municipal da Verdade de Juiz de Fora (CMV-JF) prepara como etapa final dos trabalhos será lançado em formato de livro após a conclusão das atividades. A proposta foi acertada com todos os parceiros nesta semana e fará com que o relatório final fique disponível não apenas on-line, mas também em versão impressa, que será distribuída às bibliotecas e escolas do município. A obra conterá, além dos capítulos escritos pelos comissários e pesquisadores, imagens e fotos do período da ditadura militar (1964-1985), servindo como fonte de pesquisa para futuros trabalhos relacionados ao tema. A ilustração da capa será de autoria do arquiteto e artista plástico Jorge Arbach.

Para a presidente da CMV-JF, Helena da Motta Salles, é de fundamental importância que a sociedade juiz-forana compreenda melhor o que de fato aconteceu na cidade durante os "anos de chumbo". O livro possibilita alcançar um público maior. Ele vai ser distribuído às bibliotecas de instituições públicas, sobretudo as de ensino, para exatamente ficar ao alcance de toda a população. "Se fosse entregue apenas um exemplar ao prefeito, a difusão ficaria muito limitada. Graças à parceria com a CAA, OAB e UFJF, tornou-se possível multiplicar o texto e torná-lo disponível ao grande público", destaca Helena. Além disso, o livro é resultado do grande esforço da Comissão ao longo de um ano de trabalho, que contou com a participação imprescindível dos pesquisadores e bolsistas da UFJF, que se desdobraram junto aos integrantes da CMV-JF para estabelecerem relações entre as informações contidas em arquivos e os depoimentos realizados.

Coordenadora do projeto de extensão "Memórias Possíveis" - firmado a partir de convênio entre a UFJF e a comissão -, Christina Ferraz Musse acredita que "a participação de professores, funcionários técnico-administrativos em educação e alunos da Universidade Federal de Juiz de Fora na pesquisa documental, gravação de depoimentos, elaboração de textos e seleção de material iconográfico em parceria com a Comissão Municipal da Verdade para a elaboração do relatório final de atividades é a prova de que a instituição pública tem o dever e consegue promover a transformação social, através do conhecimento. Além do empenho de todos os segmentos da comunidade universitária, a  UFJF também apoia a confecção do livro que vai garantir ampla visibilidade ao trabalho realizado. Desta forma, cumpre o seu lema de 'espargir' luzes, isto é, tornar claro aquilo que estava escondido, velado e, muitas vezes, até esquecido nos porões da ditadura".

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

CMV-JF intensifica pesquisas que vão integrar relatório final

Em reunião realizada na última quinta-feira entre os membros e pesquisadores da Comissão Municipal da Verdade de Juiz de Fora (CMV-JF), foram discutidos pontos sobre a elaboração do relatório final. Os temas, destaques, métodos e auxílios foram colocados em debate, buscando o aprimoramento do trabalho que será disponibilizado à sociedade, com o lançamento do documento.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

"Eu não estive na prisão, eu vivi na prisão", relata Gilney Viana à CMV-JF

As experiências na Penitenciária de Linhares no período da ditadura militar foram o alvo das declarações de Gilney Viana à Comissão Municipal da Verdade de Juiz de Fora (CMV-JF). Gilney, que atualmente vive em Brasilia e foi coordenador do projeto "Direito à Memória e à Verdade" da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, veio a Juiz de Fora nesta quarta-feira (28) prestar depoimento à CMV-JF e contribuir com as pesquisas do colegiado. Ele iniciou seu envolvimento com o movimento de esquerda após se aproximar de um amigo que lia jornais e livros de reflexão comunista. A partir daí, começou a participar de reuniões do PCB e atuar em grupos de guerrilha urbana.

Como ativista, rompeu com a tendência de políticos conservadores da família, participando de movimentos de esquerda. Mas, apesar de toda a agitação política da esquerda naquela época, disse que foi um choque quando o golpe de 1964 se instaurou, pois ninguém do partido esperava. “Há quem diga que o golpe teve o seu sucesso porque a esquerda não tinha uma visão de resistência a ele", provocou Gilney, que discorda dessa versão.

Como guerrilheiro, assaltou bancos e roubou carros. Foi detido em várias prisões, entre elas a penitenciária de Ribeirão das Neves, Ilha Grande, Doi-Coidi no Rio de Janeiro e também na penitenciária de Linhares. Após a última prisão, em 1970, cumpriu pena por cerca de dez anos, quando ficou detido no Rio de Janeiro e depois foi trazido para Juiz de Fora. Quando chegou aqui, ficou sete dias no Quartel General, no Bairro Mariano Procópio, onde foi interrogado e depois levado para Linhares. Gilney relembrou que juntamente com ele, cerca de 80 presos, entre homens e mulheres, constituíam a população carcerária. Apesar de não ter sido torturado fisicamente em Juiz de Fora, relatou constrangimentos e pressão psicológica, além de casos de agressões de colegas. No Rio de Janeiro sim ele disse ter sido duramente torturado, quando em uma ocasião passou por uma noite inteira de agressões.

Durante o período que esteve em Linhares, por muito tempo, não pôde ter contato com a família, e dentro das celas também havia fiscalização pelos militares. Era uma particularidade de Linhares ser vigiado por 24 horas e não poder ter cortinas nas celas. "Eu não estive na prisão, eu vivi na prisão. Eu militei, escrevi,estudei e casei em Linhares. Fiz do limão uma limonada", afirma Gilney ao relatar sobre o período que esteve preso na cidade. Havia articulação dos militantes dentro da penitenciária, montavam coletivos para poder argumentar com a administração carcerária. Eram orientados pelas respectivas organizações, para que todos fizessem denúncias sobre torturas. Ao todo, Gilney Viana permaneceu em Linhares por sete anos e três meses. Depois foi transferido para a penitenciária Milton Dias Moreira, no Rio de Janeiro, onde ficou detido por mais dois anos e sete meses. Atualmente, Gilney reside em Brasília, é membro da Comissão Camponesa da Verdade e atua em outras frentes de defesa dos direitos humanos.

sábado, 24 de janeiro de 2015

Paulo Cesar diz que, quando censurada, rádio repassava informação ao impresso

Apesar de ainda ser um menino quando o golpe de 1964 foi deflagrado, o editor-geral do jornal Tribuna de Minas, Paulo César Magella, traz lembranças vívidas da ditadura militar, e principalmente dos anos finais do regime, quando já atuava como jornalista em Juiz de Fora. Com uma memória invejável, o jornalista se recordou em entrevista à Comissão Municipal da Verdade de Juiz de Fora na última terça-feira (20) que muitas vezes eram os censores que levavam a notícia às redações. Segundo ele, em algumas ocasiões os avisos das informações que não poderiam ser publicadas pela Rádio PRB3, onde atuava, acabavam informando os jornalistas do que ocorria. “Sem querer eles nos avisavam de coisas que não sabíamos. E aí, como o aviso de censura tinha chegado só para a gente, passávamos a notícia para os jornais do grupo (Diários Associados) e eles publicavam.” PC, como é mais conhecido, lembra que essa era uma das poucas maneiras de driblar a censura e veio a ocorrer em um momento de repressão menos intensa.

Contudo, na maioria dos casos, as imposições do regime autoritário acabavam sendo aceitas nas
"Fazíamos vigília na Auditoria Militar para cobrir
o caso dos 18"
redações. “Um censor aparecia com uma nota dizendo que determinada matéria não poderia ser publicada”, e os editores, cautelosos com as publicações, seguiam as orientações com o intuito de evitar represálias.

Entre as coberturas que participou durante o período da ditadura, PC se recorda das visitas de políticos a Juiz de Fora. “Foi a primeira vez que vi um presidente da República de perto”, diz ao falar da passagem do general Ernesto Geisel pela cidade. Outro momento marcante foi entrevistar Leonel Brizola no início dos anos 1980: “Era cativante ouvir Leonel”.

Outro caso destacado pelo jornalista diz respeito a um processo envolvendo colegas de profissão. “Fazíamos vigília na Auditoria Militar para cobrir o caso dos 18.”. A menção diz respeito à cobertura feita pela imprensa sobre o processo instaurado pela Justiça Militar em 1981, que ficou conhecido como “Julgamento dos 18”. Na ocasião, foram julgadas 18 pessoas, inclusive três jornalistas, entre eles Renato Henrique Dias, por noticiarem um manifesto de sindicatos e movimentos estudantis que denunciava suspeitas de fraude na acusação de um professor pela Lei de Segurança Nacional. Antes disso, conforme PC, a cobertura dos processos julgados em Juiz de Fora era bem menos destacada nos veículos de comunicação, já que havia dificuldade de acesso à Auditoria e aos processos.

Nascido na cidade de Santos Dumont em 1953, o jornalista lembra do medo que sentiu no dia 31 de março de 1964: “A movimentação era grande, os vizinhos saiam de casa para servir ao Exército.” A notícia foi recebida pela família através do rádio e, seu pai, que era ferroviário - filiado ao PTB e fazia parte de movimentos políticos, logo tratou de contar ao filho que o presidente havia sido deposto por militares. Apesar do conhecimento político e envolvimento partidário do pai, PC diz que ele não sofreu represálias durante o período ditatorial.

Apesar de ainda não entenderem a dimensão do que ocorria no país, PC diz que ele e os colegas se manifestavam como podiam. Ainda no colégio, protestavam “colocando as cadeiras uma em cima da outra na sala de aula.”
Seu primeiro contato com o jornalismo foi aos 17 anos, na Rádio Cultura de Santos Dumont, quando havia acabado de se formar em contabilidade. Depois, enquanto estudante de direito na UFJF, em dezembro de 1975, começou a trabalhar no quadro dos Diários Associados. Seu primeiro trabalho de destaque foi uma manchete na edição de domingo do Diário Mercantil. A reportagem era sobre um discurso feito em Juiz de Fora pelo advogado, jurista e escritor Heleno Cláudio Fragoso. “Devo a ele e ao Wilson Cid (jornalista) o meu ingresso no jornalismo.”



“Fui segurado pelas calças”, relata Toninho Carvalho

Os constrangimentos enfrentados pelos jornalistas durante a ditadura militar integram as lembranças de Antônio Geraldo Carvalho, o Toninho Carvalho, Bem humorado, o fotógrafo contou à Comissão Municipal da Verdade (CMV-JF), na manhã da última terça-feira (20), sobre o dia em que foi retirado de um restaurante segurado pelas calças por militares. Ele tentava fotografar o então presidente da República, Arthur da Costa e Silva: “Fiquei com os pés suspensos no elevador. Fui segurado pelas calças.”

Toninho iniciou sua carreira no jornalismo como revisor da Gazeta Comercial, em 1964. No fim dos anos 1960 foi para o Diário Mercantil, já como fotógrafo. Fotografou julgamentos de presos políticos na Auditoria Militar, que funcionava na Praça Antônio Carlos, e entrevistas na Penitenciária de Linhares. Normalmente, era necessária autorização do oficial de Justiça, do juiz ou do promotor Simeão de Faria, para realizar fotos na Auditoria. Algumas vezes, Toninho foi impedido de fotografar e, para escapar da prisão, ia embora sem as imagens. Em outras situações, fotografou escondido, sem usar o flash.

“Os militares censuravam tudo, inclusive as fotografias.” Na visão dele, os fotógrafos eram os mais prejudicados. “Nós erámos ‘pau-mandados’.” Censores entravam nas redações e os negativos eram levados para avaliação antes da publicação das fotos. Apenas aquelas fotografias que eram aceitos pelos militares, voltavam à redação, o resto do filme era cortado e ficava com o Exército.
Para Toninho, os fotógrafos eram os mais prejudicados
na ditadura

No dia 31 de março de 1964 Toninho recorda da partida das tropas em direção ao Rio de Janeiro para derrubar o presidente João Goulart. “As mulheres jogavam flores. Acreditavam nas vantagens da revolução.” Conforme o fotógrafo, um ano após o golpe, ainda havia comemoração na cidade e ele não compreendia como as pessoas poderiam celebrar o que estava ocorrendo: “Havia faixas pelas ruas de Juiz de Fora com os dizeres ‘Viva a Revolução!’”


No início da década de 1980, quando a “repressão já era mais branda”, o movimento estudantil de Juiz de Fora, liderado pelo Diretório Central dos Estudantes, organizou uma manifestação pela melhoria do transporte público. Na ocasião, Toninho refugiou-se em um prédio para fotografar a manifestação, já que os militares não permitiam fotografias: “Eles estavam tomando as máquinas dos fotógrafos e quebrando.”

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

“Havia pessoas infiltradas como informantes”


O segundo entrevistado do dia 13, foi o jornalista Jorge Sanglard. Nascido em 1954, iniciou seus estudos na UFJF em 1976. Sanglard recordou do seu primeiro dia de aula como estudante de comunicação, quando o também estudante Xico Teixeira perguntou a ele e seus colegas se tinham interesse de participarem do movimento estudantil da universidade. Na época da ditadura, praticamente não havia estrutura democrática na instituição, como lembrou o jornalista, que diz ter aceitado o convite.

Sanglard participava dos eventos políticos relacionados à faculdade e distribua folhetos poéticos sem qualquer relação com a ditadura, mas que de alguma forma eram vistos como afronta. Por isso, o jornalista afirmou que ele e seu grupo de amigos, muitos militantes de esquerda, eram perseguidos pelos militares. O jornalista disse que a desconfiança dos integrantes do movimento estudantil era de haver pessoas infiltradas como informantes nas salas de aula. “Tinha aluno na universidade que frequentou uns seis cursos. Tudo indica que poderia ser informante ou policial infiltrado.” Algumas vezes, os alunos encontraram policiais na porta do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e, em uma ocasião, o então presidente do órgão estudantil Carlos Alberto Pavam chegou a ser retirado por policiais de dentro do carro do então senador Itamar Franco. “O Itamar teve que intervir em Brasília para soltarem o Pavam.” Nesse momento, perceberam que a repressão contra os estudantes da universidade ainda era forte, o que culminou na prisão de alguns colegas como Mirian Delgado e Sandra Cheker.

Mas os estudantes não pareciam se intimidar, pois, conforme Sanglard, como forma de protesto à violência contra jornalistas, nomearam o Diretório Acadêmico da Faculdade de Comunicação de Wladimir Herzog, jornalista torturado até a morte durante a ditadura.

As primeiras manifestações em busca da democratização da universidade aconteceram no final dos anos 1970, período de início do processo de abertura política. Uma delas, a maior manifestação até então, promovida pela melhoria no transporte público e consequentemente do acesso à UFJF, ocorreu no Parque Halfeld, em frente à antiga Prefeitura (atual Funalfa). Com medo de que o prédio fosse invadido, o prefeito Mello Reis pediu ajuda policial. O que ninguém esperava é que os policiais chegariam com cavalaria e cachorros, que atacaram os manifestantes. Muitas pessoas foram feridas e vários estudantes detidos. “A cidade foi atacada e foi a primeira vez que a tomou um posicionamento claro contra a repressão”, afirmou Sanglard. Isso porque depois da forte repressão aos manifestantes, os jornais e a sociedade passaram a cobrar postura menos truculenta das autoridades. Em outra manifestação, por melhorias no Restaurante Universitário, vários outros alunos foram detidos após tomarem a cozinha da unidade.


Em 1981, após atuar em alguns jornais alternativos (como Poesia, Bar Brazil, D’Lira, Abre Alas e Em Tempo), foi contratado como diagramador da Tribuna de Minas, que acabara de ser fundada. Sanglard afirmou que nesse momento já não havia mais repressão dentro das redações e que os veículos tinham mais liberdade em suas publicações. “Nessa época eu nunca presenciei uma situação de censura dentro do jornal”. 

Jorge Sanglard tinha forte atuação nos movimentos
estudantis na época da ditadura

Jornalista chegou a ser processado por ter publicado manifesto

Na manhã da último dia 13, a Comissão Municipal da Verdade entrevistou dois importantes jornalistas de Juiz de Fora. O primeiro entrevistado foi Renato Henrique Dias. Nascido em Juiz de Fora em 1949, tinha apenas 15 anos quando foi deflagrado o golpe militar no país em 1964. Com a impossibilidade de ter acesso à informação por questões financeiras, por não ter aparelho de rádio em casa nem como comprar jornais, Renato não tinha consciência do que de fato acontecia no país: “Apesar de estar ciente de que algo não estava bom no governo de João Goulart, não sabia que o golpe havia saído de Juiz de Fora.” Mesmo servindo ao Exército em 1968, o jornalista só compreendeu a situação do país quando começou a trabalhar no escritório da Livraria Exata, onde começou a ler artigos e ter acesso a periódicos como O Pasquim e Jornal do Brasil. A partir daí tomou consciência de que estava vivendo sob forte repressão.
Renato Henrique Dias foi julgado e absolvido
no "Julgamento dos 18"

Começou a estudar jornalismo na UFJF no início da década de 1970 e diz que o jornalista José Carlos de Lery Guimarães foi sua maior inspiração ao escolher o curso. Na faculdade, acompanhava os movimentos estudantis, mas não teve participação efetiva em diretórios acadêmicos ou partidos políticos. Iniciou seu trabalho na imprensa como estagiário na editoria policial do Diário da Tarde, impresso do grupo Diários Associados, no final dos anos 1970. Em uma manifestação para a melhoria do transporte público, Renato foi mordido por um cachorro da polícia que chegou também com a cavalaria para conter os manifestantes.

Nesse momento, os jornais já tinham mais liberdade em suas publicações, inclusive as prisões eram noticiadas. Mas haviam resquícios da mão do poder na redação e algumas reportagens eram “adiadas” pelos próprios editores. Seu grande contato com a ditadura foi em um processo que sofreu como editor de cidade por publicar uma matéria sobre o manifesto de sindicatos e movimentos estudantis que denunciava suspeitas de fraude na acusação de um professor pela Lei de Segurança Nacional. Renato diz que os jornalistas foram incluídos no processo porque estariam “desmoralizando a Justiça Militar ao publicar esse tipo de denúncia”. Ele, o editor-chefe e a repórter que apurou a matéria, além de outras 15 pessoas direta ou indiretamente envolvidas com a elaboração do manifesto, foram a julgamento em novembro de 1981, no que ficou conhecido como “Julgamento dos 18”. Ao final, todos foram absolvidos.

O jornalista tem poucas recordações do movimento pró-anistia apesar de ter sido muito forte e com enorme espaço de divulgação nos jornais. Para ele, o seu papel no período da ditadura era como o de um historiador: “A minha intenção era ser um instrumento de divulgação dos fatos, para estarem documentados os acontecimentos do período.”

Renato lembrou de como Juiz de Fora era uma cidade conservadora, o que refletia no conservadorismo dos próprios jornais e ressaltou a diferença entre o jornalismo praticado naquela época e o de hoje: “A mídia fazia a cabeça das pessoas. Hoje a força popular é muito maior e ela manipula a cabeça da mídia.”


sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Obregon diz que promotor da Justiça Militar atendia interesses da ditadura

Obregon Gonçalves ladeado por Cristina Guerra e Helena da Motta
“Aqui não se fazia Justiça, ratificava-se o interesse da Revolução.” Foi assim que o advogado Obregon Gonçalves definiu a atuação da Auditoria Militar da 4ª Região no período da ditadura militar. E os bastidores da Auditoria foram justamente o foco do depoimento do advogado na tarde desta sexta-feira (16). Mineiro de Belo Horizonte, o jurista veio a Juiz de Fora com o apoio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para contar à Comissão Municipal da Verdade (CMV-JF) relatos sobre o período autoritário, quando ele defendeu centenas presos políticos.  De acordo com ele, que é ex-vereador da capital mineira e autor de livros, a Auditoria era um lugar temido, já que nem sempre se acreditava que ali se faria justiça.
A relação de Obregon com a Auditoria de Juiz de Fora nos anos de repressão começou logo depois do golpe de 1964, quando ele atuou no processo dos deputados estudais Sinval de Oliveira Bambirra, José Gomes Pimenta (o Dazinho) e Clodesmidt Riani. Obregon era advogado de Sinval. “O clima na cidade era hostil e de insegurança, até mesmo para os advogados.”
“Na Auditoria Militar, havia uma pessoa que mandava, o Simeão de Faria”, destacou Obregon, que fez questão de frisar o caráter impolular do promotor perante os advogados, por conta da rigidez nos processos. “O Simeão era um cidadão de pouca cultura jurídica e tinha medo de enfrentar os advogados. Mas ele mandava.”
Segundo Obregon, o juiz Waldemar Lucas Rego de Carvalho, mais conhecido como “jacaré engomado”, costumava seguir as orientações de Simeão de Faria, o que parou de ocorrer quando Antonio de Arruda Marques assumiu o posto de juiz-auditor. “O Arruda não acatava o Simeão.” E Obregon atribui a isso a cassação e afastamento precoce deste juiz da Auditoria. “Quando vi pela televisão, pensei: mataram o homem.” Arruda não tinha morrido, mas foi afastado e, de alguma forma, Obregon estava certo que o desgosto levaria o juiz Arruda a falecer.
O advogado contou também que chegou a ser intimado e acusado por desacato, por conta de um mal entendido, precisando explicar ao Conselho de Justiça os termos jurídicos que havia utilizado para se livrar do processo. “Havia um juiz civil e três militares, que não entendiam de direito.”
Como defensor de presos políticos, Obregon recebeu muitas ameaças. Entre os casos que recordou estão a ocasião em que, logo após chegar à sede da OAB em Belo Horizonte, foi chamado pelo motorista para avisá-lo que o carro da Caixa de Assistência dos Advogados – na qual era presidente – estava pegando fogo. “Alguém de táxi jogou uma bomba no carro, e não conseguiram identificar quem foi. Mas quem sofreu mais ameaças foi a minha mulher.” Segundo ele, a esposa recebia ligações do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) ameaçando a família. “Queriam me pressionar.”

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

“Ficamos inteiramente afastados da liberdade de comunicação”, comenta o jornalista Wilson Cid em entrevista à Comissão

No dia 8 de dezembro, a Comissão Municipal da Verdade ouviu o jornalista Wilson Cid. Aos 74 anos, Wilson contou sobre sua participação no jornalismo nas décadas de 60 e 70, e comentou como era a dinâmica da repressão no período da ditadura.
Jornalista Wilson Cid relembra sobre
a primeira prisão do golpe

No momento do golpe, Wilson era redator na Rádio Sociedade e também trabalhava no jornal Diário Mercantil. Ele contou que às vésperas da queda do presidente, a sensação de que algo estava para acontecer era presente nas redações. Havia uma enorme movimentação no aeroporto da Serrinha, com várias autoridades do estado e do país.

“O primeiro preso do golpe foi o Diretor Regional dos Correios”, lembrou. No dia 31 de março de 1964, o clima na redação foi relativamente normal até as 17 horas, mas, às 19, já havia uma censura nas emissoras de rádio para não transmitir a Voz do Brasil. No dia seguinte, às 9 horas, o programa da Rádio Sociedade já estava totalmente censurado.

De acordo com o jornalista, os donos dos jornais associados, Diário Mercantil e Diário da Tarde, se colocaram a favor do golpe militar. Por isso, sofreu com duas censuras: a militar e a da própria empresa onde trabalhava. Wilson recordou que a polícia chegava com um telegrama, que deveria ser assinado pelos responsáveis, informando a censura de determinadas reportagens. No lugar do texto censurado ficavam espaços em branco ou receitas culinárias.

Pela forte repressão da época, os jornalistas da cidade não tiveram oportunidade de cobrir as prisões e torturas feitas pelo regime militar: “Ficamos inteiramente afastados da liberdade de comunicação”. Para ele, a marca mais grave deixada pela ditadura foi o medo que o jornalista tem de assumir a informação, pelo receio de sofrer com represálias. “Isso é muito constrangedor para a profissão”, lamentou.


Wilson Cid não tinha grandes militâncias partidárias, apesar de ter participado por alguns meses do MDB, o atual PMDB. O jornalista afirmou que poucas pessoas filiaram-se ao partido na época, por medo da repressão.