Advogado
que defendeu presos políticos em Juiz de Fora conta que denúncias eram montadas
por pessoas infiltradas pelo regime
“Interrogavam
pessoas, montavam as histórias; essas pessoas eram arroladas como testemunhas
umas das outras.”- Winston Jones Paiva
No
dia 26 de agosto, o advogado e professor universitário aposentado Winston Jones
Paiva, 73 anos, em depoimento à Comissão Municipal da Verdade de Juiz de Fora,
falou sobre as leis que vigoraram durante o AI - 5, sobre presos políticos que
defendeu, processos, julgamentos, autoridades militares, ameaças, tortura e
sobre a troca de presos políticos por embaixadores sequestrados pela
resistência.
Winston
formou-se em 1965, pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Juiz de
Fora. Durante a graduação, presidiu o Diretório Central dos Estudantes (DCE).
Cerca de 10 dias após o golpe, foi detido por cerca de três horas, por um grupo
paramilitar. Foi questionado sobre os livros que tinha em casa. “Eu tinha
vários livros que podiam ser considerados subversivos. Livros que eu tive que
enterrar, para evitar problemas.”
O
advogado contou sobre elementos ligados ao regime, infiltrados em movimentos de
resistência. “Um cidadão apelidado de ‘Chuchu’- não me recordo o nome dele -
comparecia a várias cidades: Juiz de Fora, Barbacena, Ouro Preto, Congonhas,
Belo Horizonte, Brasília, São Paulo… Ele entrava em contato com algumas pessoas
e depois dizia que essas pessoas faziam parte de um grupo de resistência,
posteriormente apelidado de Corrente. Pouco tempo depois, descobriram que ele
era um elemento infiltrado pelo regime, assim como o Cabo Anselmo.” As
denúncias de “Chuchu” resultaram no “Julgamento da Corrente”, em que foram
julgadas 117 pessoas. Todos foram absolvidos, pois foi comprovado que não se
conheciam.
Durante
o período ditatorial, o advogado atuou em diversos casos envolvendo presos
políticos, como o Processo dos 18, o Processo dos Intelectuais, o Processo da
Colina e o Processo da Corrente. O advogado recordou que era necessário ter
muito cuidado para não ser confundido com subversivos ao defender seus
clientes. “Eu ficava muito preocupado, pois eu sabia que estava sendo
acompanhado o tempo todo e não sabia onde aquilo ia parar”.
Casos
de violação de direitos também foram citados por Winston. Ele ressaltou um
acontecimento ligado a um grupo de resistência conhecido por “Colina”. Durante
a madrugada, militares invadiram uma casa onde pessoas ligadas à resistência se
reuniam. Uma dessas pessoas tinha uma metralhadora; dois militares morreram.
“Em virtude disso, os envolvidos foram violentamente torturados”, recordou.
Segundo
Winston Jones, a montagem de depoimentos era uma prática comum. “Interrogavam
pessoas, montavam as histórias; essas pessoas eram arroladas como testemunhas
umas das outras.” O advogado recordou que durante o Julgamento do Processo da
Corrente, o promotor responsável, ao ler partes dos depoimentos, alterou as
informações que eles continham. “Dois escrivães olhavam a cena assustados.
Perguntei o que era. Eles responderam: ‘Ele não está lendo, está inventando’.”
Fotos por: Jéssica Dias
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