Professor
aposentado da UFJF fala sobre sua militância no Movimento Familiar Cristão e sua
prisão durante o AI-5
“Queriam
saber o que a igreja em Juiz de Fora pensava”- Itamar Bonfatti
No
dia 29 de julho de 2014, o ex-preso político e professor aposentado da UFJF
Itamar David Bonfatti falou à Comissão Municipal da Verdade sobre suas
experiências durante o período ditatorial em Juiz de Fora, sobre presos
políticos, militares e integrantes de movimentos clandestinos acolhidos em sua
casa. Casado e pai, foi preso em 28 de janeiro de 1972 - período em que
vigorava o AI 5, e libertado cerca de um mês depois. Ficou detido no presídio
de Linhares e conta que não sofreu tortura física, mas que a tortura
psicológica foi intensa. Nudez, humilhação, calúnias, injúrias e incertezas
eram práticas comuns, utilizadas para intimidar, que fizeram parte dos dias de
encarceramento vividos pelo professor.
Itamar
afirmou que as prisões ocorriam preferencialmente nas sextas-feiras, à
tardinha, possibilitando que os militares desaparecessem com a localização do
preso. “Fiquei aliviado quando vi, pela beiradinha da caminhonete, que estava
indo para Linhares. Sabia que se fosse levado para Belo Horizonte, seria
torturado. Percebi que seria interrogado e conforme fossem as minhas respostas,
ficaria em Linhares ou seria enviado a Belo Horizonte.”
Itamar acredita que sua prisão foi
motivada pela militância na igreja católica, dentro do Movimento Familiar
Cristão - MFC e não pelo fato alegado pelos militares: um de seus alunos, que à
época cursava medicina, pediu que ele guardasse em sua casa um pacote com
panfletos do partido comunista, para que outra pessoa fosse pegar. Ele aceitou,
mesmo sabendo do que se tratava. Pouco tempo depois, esse rapaz foi preso e
torturado. Durante uma sessão de intensa tortura, contou sobre a ajuda do
professor nessa empreitada. “Eles queriam um pretexto para minha prisão e
tiveram o pretexto” declarou.
Durante um dos interrogatórios, Itamar viu
sobre uma mesa toda a documentação do Movimento Familiar Cristão. As perguntas
feitas eram relacionadas à sua atuação na igreja e pouquíssimas ao fato
ocorrido. “Sabiam que eu não participava de nenhum movimento clandestino ou
partido político. Sabiam da minha militância. Percebi claramente que queriam saber
o que de fato eu pensava, o que a igreja em Juiz de Fora pensava.” relatou.
À época de sua prisão lecionava no
Instituto de Ciências Biológicas (ICB) e na Faculdade de Serviço Social da
UFJF, onde ministrava a disciplina “Doutrina Social da Igreja”, que apresentava
conteúdo contrário às propostas do regime. Embora não fizesse parte de partidos
políticos ou movimentos clandestinos, Itamar não restringia sua fala aos
interesses do regime militar. “Eu militava dentro do ICB, aqui na universidade
e tinha à minha disposição auditórios, laboratórios. Falava o que pensava,
mesmo sabendo que entre os alunos haviam pessoas ligadas ao serviço de
segurança, pois me sentia totalmente descomprometido com o movimento
clandestino e com o partido político.”
Por
conta de seu posicionamento religioso, acolhia pessoas que vinham a Juiz de
Fora por diversos motivos. Recebia parentes de presos políticos e pessoas que
participavam de movimentos clandestinos. Recordou que manteve uma pessoa
escondida em sua casa, e que os militares posteriormente descobriram. Ao ser
questionado sobre o que restou em sua vida, relativo aos acontecimentos durante
o período ditatorial, Itamar concluiu: “Para mim valeu toda a prisão, pois o
que vale é o testemunho da fé. As consequências ruins eram muito pequenas
diante disso.”
Fotos por: Jéssica Dias
Querido prof Itamar, exemplo de vida e compromisso com ela.Respeito e admiração sempre, após tantos anos! Pautei minha vida profissional em seus ensinamentos e na doutrina social da igreja. Valeu à pena. Grande abraço.
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