Filho de juiz
cassado em Juiz de Fora
grava depoimento
à CMV-JF
“Não
se pode querer que a nossa memória seja deletada, o que se vivencia não
esquece” - Marco Aurélio Marques
No dia 22 de julho de
2014 os membros da Comissão Municipal da Verdade de Juiz de Fora (CMV-JF),
Antônio Henrique Duarte Lacerda e Jucelio Maria, ouviram o depoimento do
economista Marco Aurélio Marques, 58 anos, filho do juiz auditor da Justiça
Militar Antônio de Arruda Marques.
Antônio de Arruda
nasceu em 13 de junho de 1926, na cidade de Cáceres (MT), foi morar em Campo
Grande (MS) e depois no Rio de Janeiro (RJ), onde se formou em Direito. Voltou
para Campo Grande e passou no concurso para juiz auditor da Justiça Militar,
iniciando sua carreira.
Em 1966 ele saiu de
Campo Grande com a esposa Mitze da Silva Marques e os cinco filhos - Antônio
José Marques, Luiz Guilherme Marques, Marco Aurélio Marques, Maria Helena
Marques e Maria Célia Marques Faria -, indo com a família para Juiz de Fora, atraído
por uma vaga que surgira na auditoria militar da região. No inicio de 1967 ele
assumiu o cargo, onde permaneceu por dois anos. Porém, em fevereiro de 1969
veio a notícia de sua cassação, baseada no Ato Institucional n° 5. O juiz foi
destituído de seu cargo sem aviso prévio ou indenização.
No depoimento, Marco
Aurélio Marques disse que as decisões tomadas por seu pai não coincidiam com os
interesses do governo militar daquela época, o que teria sido a principal
motivação para sua prisão. “Meu pai foi o primeiro juiz cassado aqui em Juiz de
Fora, ele não julgava os processos de acordo com a vontade dos militares. Na
época, dezenove pessoas de Lavras, inclusive o escritor Rubem Alves e o
ex-presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Nilson Naves, foram
absolvidos em uma decisão judicial dele.”
Após o ocorrido, a
família de Antônio de Arruda Marques enfrentou grandes dificuldades. Em uma
cidade que pouco conhecia e com cinco filhos para criar, ele contou com o apoio
de alguns vizinhos e amigos. Sendo o terceiro filho mais velho, Marco Aurélio tinha
11 anos quando tudo aconteceu e lembrou com detalhes os momentos que sucederam.
“Contamos sem dúvida nenhuma com apoios generosos de pouquíssimos amigos e que
continuaram dando a assistência que precisávamos. A cassação envolvia realmente
a intenção de tirar todas as condições do indivíduo viver. Não tinha direito à
indenização, ao aviso prévio e à pensão. Para se ter uma ideia, meu pai foi
cassado em 1969 e minha mãe só veio a receber a primeira pensão em 1984 pelo
Ministério da Fazenda, um salário que não condizia com o que ele recebia”.
Marco Aurélio contou
ainda que a situação emocional e psicológica de seu pai ficou tão abalada que
em 1990 ele faleceu. O economista disse, no entanto, que todos os momentos que
passaram serviram como uma alavanca, pois todos os irmãos conseguiram estudar e
se formar e hoje cada um tem a sua profissão. “Não se pode querer que a nossa
memória seja deletada, não é assim que funciona, o que se vivencia não esquece.
O efeito disso, na nossa vida, tem que ser transformado para que o impacto
venha a ser diminuído e amenizado. Aí sim, conseguiremos transformar aquilo que
foi ruim numa alavanca e poderemos partir para melhor.”
Fotos por: Jéssica Dias
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