Advogado
fala à Comissão Municipal da Verdade sobre a prisão política do pai e o
assassinato do irmão em Marabá
“Meu
pai tinha medo de ser preso a qualquer momento. Dar aulas, em lugar e horário
fixo era sua maior preocupação. Facilmente poderia ser encontrado" –
Rafael Sales Pimenta
A Comissão Municipal da Verdade de
Juiz de Fora gravou, em 26 de agosto de 2014, o depoimento do advogado e
professor universitário Rafael Sales Pimenta, 55 anos, que falou sobre a prisão
política de seu falecido pai, o professor aposentado da UFJF Geraldo Gomes
Pimenta, e sobre seu irmão, o advogado Gabriel Sales Pimenta, assassinado em 18
de julho de 1982.
O ex-militar Geraldo teve várias profissões e trabalhou em diversos bancos.
Engajado em movimentos sindicais, começou a militar no Partido Trabalhista
Brasileiro (PTB) na década de 1950. Junto com Clodesmith Riani e outros líderes
sindicais da época, formou o grupo de sindicalistas do PTB. Presidiu o
Sindicato dos Bancários de Juiz de Fora por dois mandatos. Na década de 1970,
tornou-se professor universitário. Formado em Jornalismo, Ciências Sociais e
Economia, foi um dos primeiros professores da Faculdade de Economia, ajudando a
estruturar o curso. Deu aulas nos cursos de Economia, Filosofia, Letras e Jornalismo.
Membros do Movimento Familiar
Cristão (MFC), Geraldo e sua esposa, Maria da Glória Sales Pimenta, acolhiam
pessoas em sua casa e com o auxílio de vizinhos e amigos ofereciam refeições.
Algumas dessas pessoas aproveitavam esse espaço para fazer reuniões com
temáticas ligadas à resistência. Em sua casa havia um porão, onde foi
encontrado um panfleto informativo do partido comunista. O professor foi detido
para prestar esclarecimentos. Foi julgado e absolvido. Devido às perseguições
políticas, Geraldo encontrou dificuldades para manter seu emprego, não
evoluindo na carreira docente, terminando por se aposentar como professor em
regime 20 horas pela Universidade Federal de Juiz de Fora. "Meu pai tinha
medo de ser preso a qualquer momento. Aos finais de semana, sumia de casa, com
medo de ser detido. Dar aulas, em um lugar e horário fixo era sua maior
preocupação. Facilmente poderia ser encontrado", relatou Rafael.
Gabriel Sales Pimenta sempre se destacou nos estudos. Passou em 1º lugar
no vestibular de Direito na UFJF e em 4º lugar no concurso do Banco do Brasil,
sendo lotado em Brasília. Conheceu a Comissão Pastoral da Terra (CPT), ligada à
Igreja Católica e foi convidado para advogar pela CPT em Conceição do Araguaia.
Pouco tempo depois, foi transferido para Marabá, cidade paraense próxima a
Serra Pelada, devido aos conflitos locais, ligados à extração de ouro e invasão
de terras. Gabriel assumiu a defesa dos trabalhadores rurais e da construção
civil da região. Em 1 ano e meio, criou quatro sindicatos, contrariando o
sistema de poder local. Foi assassinado em 18 de julho de 1982.
O jovem advogado ajudou a fundar o partido político Movimento
Democrático Brasileiro (MDB) em Marabá. Esse era um partido que abrigava
opositores ao regime militar. Nessa cidade existiam apenas os partidos Arena 1
e Arena 2. Gabriel conseguiu levantar candidatos pelo partido. O estopim para
sua morte foi a invasão de 160 famílias a uma fazenda abandonada. Grileiros
compraram a terra e conseguiram uma liminar de restituição. Gabriel conseguiu
um mandato de segurança, porém foi assassinado três semanas antes do
julgamento, aos 27 anos. "Os mandantes não queriam que ele comparecesse à
audiência. O mandato de segurança foi aceito e as famílias ficaram com a terra.
Vivem lá até hoje. Ás vezes, vamos visitá-los", comentou Rafael Pimenta.
Fotos por: Jéssica Dias
Preciso do seu número de telefone Rafael.
ResponderExcluir