quarta-feira, 24 de setembro de 2014

João Carlos Horta Reis - 07/08/2014



JOÃO COMUNISTA CONTA À COMISSÃO MUNICIPAL DA VERDADE AS TORTURAS QUE SOFREU NA PRISÃO



“Lá eles matavam quando eles quisessem. Não precisava de dar comprimido para matar não... Igual fizeram com o outro, te matam, dá um tiro, depois te enfiam em um buraco lá no subúrbio e falam que você morreu brigando, lutando contra eles...” João Comunista



João Comunista é o apelido pelo qual é conhecido João Carlos Reis Horta, que prestou depoimento à Comissão Municipal da Verdade de Juiz de Fora no dia 07 de agosto de 2014. Ele contou a história dos dias em que passou preso e que foi torturado durante a ditadura militar que se instalou no Brasil entre os anos 1964 e 1985.

Comunista desde a juventude, João Carlos, que trabalhava com livros, na Livraria Sagarana, foi preso em Juiz de Fora pouco tempo após adquirir sua própria livraria, em sociedade com amigos. Depois de solto, foi morar e trabalhar no Rio de Janeiro e lá passou a fazer parte da Resistência Armada Nacional (R.A.N.), um dos movimentos que lutava contra o regime militar.

Neste período foi preso novamente, e, segundo revela, experimentou terríveis experiências, como ficar preso nu em uma cela chamada de “geladeira”, por ser escura, fria, sem janelas, e com ar condicionado ligado no máximo, ou ainda, ficar confinado em uma solitária, sem ver nem conversar com ninguém por mais de 30 dias.

Dentre as torturas que sofreu, levou choques nas partes mais sensíveis do corpo, foi espancado, levou chutes, teve a cabeça mergulhada em água até perder o fôlego, andou de capuz sem poder ver o que ia acontecer, teve armas apontadas para sua cabeça e disparadas sem balas, como forma de pressão psicológica.

João Carlos contou a história de amigos que também foram presos e torturados e com quem dividiu tristezas e vitórias, revelando que, infelizmente, não foram mentiras as situações inimagináveis de violação aos direitos humanos ocorridas no período da ditadura no Brasil.

Em seu relato, revela que encontrou militares que, mesmo sem precisar, “eram covardes”, como um que o deixou na solitária por vários dias após ter havido determinação para que ninguém mais ficasse neste tipo de cela, ou outro que o tratou como prisioneiro, algemado e com armas apontadas para a cabeça mesmo após ele ter sido libertado. Encontrou, também, aqueles que seguiam seus princípios e não só não impingiam torturas como procuravam tornar mais leve a situação, como um comissário que, em seu turno, mandava o carcereiro soltar todos das solitárias para que pudessem conversar, comprava cigarro para os presos, e assumia que as regras militares não iriam se sobrepor a seus princípios.




                                                                  Fotos por: Jéssica Dias

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