Em
solenidade na Prefeitura, comissários repassarão aos chefes dos poderes
Executivo e Legislativo resultados de um ano de investigações
Na próxima
segunda-feira, dia 6, às 11h, a Comissão Municipal da Verdade de Juiz de Fora
(CMV-JF) fará a entrega do relatório final de atividades aos representantes dos
poderes Executivo e Legislativo. Receberão também uma via do documento a Ordem
dos Advogados do Brasil (OAB) - subseção Juiz de Fora, e a reitoria da
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). O ato marca a conclusão dos
trabalhos de pesquisa e investigação que se desenvolveram ao longo de um ano e
culminaram com a redação do relatório.
O texto, que será
divulgado à sociedade em breve e transformado em livro, contextualiza as
violações de direitos humanos ocorridas em Juiz de Fora ou envolvendo
juiz-foranos em outras localidades, e apresenta um panorama geral do sistema
repressivo que funcionou na cidade durante o período da ditadura militar
(1964-1985). Com o auxílio de pesquisadores da UFJF, a comissão buscou não
apenas descrever os casos emblemáticos, como também entender o perfil das
vítimas. A Justiça e a legislação de exceção e o impacto da ditadura sobre as
instituições juiz-foranas também foram objeto de estudo do grupo de trabalho.
Segundo
a presidente da comissão, Helena da Motta Salles, “o relatório é o resumo de um
esforço de pesquisa cujo mérito principal talvez seja o de revelar o quanto a
própria cidade conhece pouco o seu passado e o quanto ainda tem a desvendar.”
Ainda que muitas descobertas tenham sido feitas, a CMV-JF está certa de que há
muito que se conhecer. Por isso, o texto também apresenta uma série de
recomendações à sociedade e ao poder público visando à continuidade das
pesquisas e do levantamento de informações, ainda que por outros órgãos.
Os
membros da comissão serão recebidos pelo prefeito Bruno Siqueira e pelo
presidente da Câmara Municipal, Rodrigo Mattos, em uma solenidade simples, sem
a participação da população. Como parceiras e financiadoras dos trabalhos
CMV-JF, a UFJF e a OAB também estarão presentes.
Material ficará acessível
a todos
O
ato simboliza o encerramento das investigações do colegiado, conforme
estabelecido em lei. Contudo, na prática, a CMV-JF não vai se extinguir
totalmente, pois os comissários continuarão atuando por pelo menos mais dois
meses, com o propósito de reunir e organizar todo o material conseguido,
garantir a impressão do relatório em formato livro e inaugurar um site que permitirá
à sociedade ter acesso à íntegra do relatório e também a fotos, depoimentos e
documentos que instruíram as pesquisas. Cada instituição de ensino da cidade
será presenteada com uma versão do livro, a ser lançado em breve.
As
parcerias estabelecidas entre a CMV-JF, a OAB e a UFJF foram decisivas para
transformar o relatório em instrumentos mais acessíveis à população (livro e
site com a versão digital), de forma que, nas palavras da presidente, a
sociedade “tome conhecimento dos erros do passado para que não se repitam”.
Os
sete integrantes da comissão compartilham a expectativa para o lançamento do
livro, que será aberto à sociedade e terá como convidados especiais os
depoentes e aqueles que colaboraram com os trabalhos. Ao todo, 37 pessoas
prestaram depoimentos à CMV-JF, mas o colegiado também teve acesso a outros 18
relatos de vítimas feitos ao Comitê pela Memória Verdade e Justiça de Juiz de
Fora ou ao projeto “Marcas da Memória”, da Comissão de Anistia. Todos esses
depoimentos foram transcritos e, a partir do lançamento do livro e do site,
ficarão à disposição para consulta.
Ainda
que os trabalhos de pesquisa e investigação tenham alcançado o objetivo, a
CMV-JF tem consciência de que o relatório é apenas mais uma forma de que a
cidade conviva com o seu passado traumático e de que as novas gerações tenham
conhecimento de algumas narrativas sobre o que ocorreu durante a ditadura. As
pesquisas realizadas no curto período de um ano jamais esgotarão a complexidade
que o regime autoritário representa. Por isso, mais do que revelar “a verdade”
a comissão deseja trazer questões e apontamentos para que os cidadãos
juiz-foranos sejam provocados a refletir, a pesquisar, a descobrir novas
informações.
Segundo
Helena da Motta Salles, “embora o relatório não tenha conseguido exaurir todas
as informações contidas na documentação recolhida, que é imensa, a CMV-JF
conseguiu organizar um material muito expressivo, que servirá de fonte para
pesquisas futuras”.
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