Na manhã da último dia 13, a Comissão Municipal da Verdade entrevistou dois importantes jornalistas de
Juiz de Fora. O primeiro entrevistado foi Renato Henrique Dias. Nascido em Juiz
de Fora em 1949, tinha apenas 15 anos quando foi deflagrado o golpe militar no
país em 1964. Com a impossibilidade de ter acesso à informação por questões
financeiras, por não ter aparelho de rádio em casa nem como comprar jornais, Renato
não tinha consciência do que de fato acontecia no país: “Apesar de estar ciente
de que algo não estava bom no governo de João Goulart, não sabia que o golpe
havia saído de Juiz de Fora.” Mesmo servindo ao Exército em 1968, o jornalista
só compreendeu a situação do país quando começou a trabalhar no escritório da
Livraria Exata, onde começou a ler artigos e ter acesso a periódicos como O Pasquim
e Jornal do Brasil. A partir daí tomou consciência de que estava vivendo sob
forte repressão.
Renato Henrique Dias foi julgado e absolvido no "Julgamento dos 18" |
Começou a estudar jornalismo
na UFJF no início da década de 1970 e diz que o jornalista José Carlos de Lery Guimarães
foi sua maior inspiração ao escolher o curso. Na faculdade, acompanhava os
movimentos estudantis, mas não teve participação efetiva em diretórios
acadêmicos ou partidos políticos. Iniciou seu trabalho na imprensa como
estagiário na editoria policial do Diário da Tarde, impresso do grupo Diários
Associados, no final dos anos 1970. Em uma manifestação para a melhoria do transporte público, Renato foi mordido por um cachorro da polícia que chegou também com a cavalaria para conter os manifestantes.
Nesse momento, os jornais já tinham mais liberdade em suas publicações, inclusive as prisões eram noticiadas. Mas haviam resquícios da mão do poder na redação e algumas reportagens eram “adiadas” pelos próprios editores. Seu grande contato com a ditadura foi em um processo que sofreu como editor de cidade por publicar uma matéria sobre o manifesto de sindicatos e movimentos estudantis que denunciava suspeitas de fraude na acusação de um professor pela Lei de Segurança Nacional. Renato diz que os jornalistas foram incluídos no processo porque estariam “desmoralizando a Justiça Militar ao publicar esse tipo de denúncia”. Ele, o editor-chefe e a repórter que apurou a matéria, além de outras 15 pessoas direta ou indiretamente envolvidas com a elaboração do manifesto, foram a julgamento em novembro de 1981, no que ficou conhecido como “Julgamento dos 18”. Ao final, todos foram absolvidos.
Nesse momento, os jornais já tinham mais liberdade em suas publicações, inclusive as prisões eram noticiadas. Mas haviam resquícios da mão do poder na redação e algumas reportagens eram “adiadas” pelos próprios editores. Seu grande contato com a ditadura foi em um processo que sofreu como editor de cidade por publicar uma matéria sobre o manifesto de sindicatos e movimentos estudantis que denunciava suspeitas de fraude na acusação de um professor pela Lei de Segurança Nacional. Renato diz que os jornalistas foram incluídos no processo porque estariam “desmoralizando a Justiça Militar ao publicar esse tipo de denúncia”. Ele, o editor-chefe e a repórter que apurou a matéria, além de outras 15 pessoas direta ou indiretamente envolvidas com a elaboração do manifesto, foram a julgamento em novembro de 1981, no que ficou conhecido como “Julgamento dos 18”. Ao final, todos foram absolvidos.
O jornalista tem poucas
recordações do movimento pró-anistia apesar de ter sido muito forte e com
enorme espaço de divulgação nos jornais. Para ele, o seu papel no período da
ditadura era como o de um historiador: “A minha intenção era ser um instrumento
de divulgação dos fatos, para estarem documentados os acontecimentos do período.”
Renato lembrou de como
Juiz de Fora era uma cidade conservadora, o que refletia no conservadorismo dos
próprios jornais e ressaltou a diferença entre o jornalismo praticado naquela
época e o de hoje: “A mídia fazia a cabeça das pessoas. Hoje a força popular é
muito maior e ela manipula a cabeça da mídia.”
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