O segundo entrevistado do dia 13, foi o jornalista Jorge Sanglard. Nascido em 1954, iniciou seus
estudos na UFJF em 1976. Sanglard recordou do seu primeiro dia de aula como
estudante de comunicação, quando o também estudante Xico Teixeira perguntou a
ele e seus colegas se tinham interesse de participarem do movimento estudantil
da universidade. Na época da ditadura, praticamente não havia estrutura
democrática na instituição, como lembrou o jornalista, que diz ter aceitado o
convite.
Sanglard participava dos
eventos políticos relacionados à faculdade e distribua folhetos poéticos sem
qualquer relação com a ditadura, mas que de alguma forma eram vistos como afronta.
Por isso, o jornalista afirmou que ele e seu grupo de amigos, muitos militantes
de esquerda, eram perseguidos pelos militares. O jornalista disse que a desconfiança
dos integrantes do movimento estudantil era de haver pessoas infiltradas como
informantes nas salas de aula. “Tinha aluno na universidade que frequentou uns
seis cursos. Tudo indica que poderia ser informante ou policial infiltrado.” Algumas
vezes, os alunos encontraram policiais na porta do Diretório Central dos
Estudantes (DCE) e, em uma ocasião, o então presidente do órgão estudantil
Carlos Alberto Pavam chegou a ser retirado por policiais de dentro do carro do então
senador Itamar Franco. “O Itamar teve que intervir em Brasília para soltarem o
Pavam.” Nesse momento, perceberam que a repressão contra os estudantes da universidade
ainda era forte, o que culminou na prisão de alguns colegas como Mirian Delgado e Sandra Cheker.
Mas os estudantes não
pareciam se intimidar, pois, conforme Sanglard, como forma de protesto à
violência contra jornalistas, nomearam o Diretório Acadêmico da Faculdade de
Comunicação de Wladimir Herzog, jornalista torturado até a morte durante a
ditadura.
As primeiras manifestações
em busca da democratização da universidade aconteceram no final dos anos 1970,
período de início do processo de abertura política. Uma delas, a maior manifestação
até então, promovida pela melhoria no transporte público e consequentemente do
acesso à UFJF, ocorreu no Parque Halfeld, em frente à antiga Prefeitura (atual
Funalfa). Com medo de que o prédio fosse invadido, o prefeito Mello Reis pediu
ajuda policial. O que ninguém esperava é que os policiais chegariam com
cavalaria e cachorros, que atacaram os manifestantes. Muitas pessoas foram
feridas e vários estudantes detidos. “A cidade foi atacada e foi a primeira vez
que a tomou um posicionamento claro contra a repressão”, afirmou Sanglard. Isso
porque depois da forte repressão aos manifestantes, os jornais e a sociedade
passaram a cobrar postura menos truculenta das autoridades. Em outra
manifestação, por melhorias no Restaurante Universitário, vários outros alunos
foram detidos após tomarem a cozinha da unidade.
Em 1981, após atuar em
alguns jornais alternativos (como Poesia, Bar Brazil, D’Lira, Abre Alas e Em
Tempo), foi contratado como diagramador da Tribuna de Minas, que acabara de ser
fundada. Sanglard afirmou que nesse momento já não havia mais repressão dentro
das redações e que os veículos tinham mais liberdade em suas publicações. “Nessa
época eu nunca presenciei uma situação de censura dentro do jornal”.
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