quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

“Havia pessoas infiltradas como informantes”


O segundo entrevistado do dia 13, foi o jornalista Jorge Sanglard. Nascido em 1954, iniciou seus estudos na UFJF em 1976. Sanglard recordou do seu primeiro dia de aula como estudante de comunicação, quando o também estudante Xico Teixeira perguntou a ele e seus colegas se tinham interesse de participarem do movimento estudantil da universidade. Na época da ditadura, praticamente não havia estrutura democrática na instituição, como lembrou o jornalista, que diz ter aceitado o convite.

Sanglard participava dos eventos políticos relacionados à faculdade e distribua folhetos poéticos sem qualquer relação com a ditadura, mas que de alguma forma eram vistos como afronta. Por isso, o jornalista afirmou que ele e seu grupo de amigos, muitos militantes de esquerda, eram perseguidos pelos militares. O jornalista disse que a desconfiança dos integrantes do movimento estudantil era de haver pessoas infiltradas como informantes nas salas de aula. “Tinha aluno na universidade que frequentou uns seis cursos. Tudo indica que poderia ser informante ou policial infiltrado.” Algumas vezes, os alunos encontraram policiais na porta do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e, em uma ocasião, o então presidente do órgão estudantil Carlos Alberto Pavam chegou a ser retirado por policiais de dentro do carro do então senador Itamar Franco. “O Itamar teve que intervir em Brasília para soltarem o Pavam.” Nesse momento, perceberam que a repressão contra os estudantes da universidade ainda era forte, o que culminou na prisão de alguns colegas como Mirian Delgado e Sandra Cheker.

Mas os estudantes não pareciam se intimidar, pois, conforme Sanglard, como forma de protesto à violência contra jornalistas, nomearam o Diretório Acadêmico da Faculdade de Comunicação de Wladimir Herzog, jornalista torturado até a morte durante a ditadura.

As primeiras manifestações em busca da democratização da universidade aconteceram no final dos anos 1970, período de início do processo de abertura política. Uma delas, a maior manifestação até então, promovida pela melhoria no transporte público e consequentemente do acesso à UFJF, ocorreu no Parque Halfeld, em frente à antiga Prefeitura (atual Funalfa). Com medo de que o prédio fosse invadido, o prefeito Mello Reis pediu ajuda policial. O que ninguém esperava é que os policiais chegariam com cavalaria e cachorros, que atacaram os manifestantes. Muitas pessoas foram feridas e vários estudantes detidos. “A cidade foi atacada e foi a primeira vez que a tomou um posicionamento claro contra a repressão”, afirmou Sanglard. Isso porque depois da forte repressão aos manifestantes, os jornais e a sociedade passaram a cobrar postura menos truculenta das autoridades. Em outra manifestação, por melhorias no Restaurante Universitário, vários outros alunos foram detidos após tomarem a cozinha da unidade.


Em 1981, após atuar em alguns jornais alternativos (como Poesia, Bar Brazil, D’Lira, Abre Alas e Em Tempo), foi contratado como diagramador da Tribuna de Minas, que acabara de ser fundada. Sanglard afirmou que nesse momento já não havia mais repressão dentro das redações e que os veículos tinham mais liberdade em suas publicações. “Nessa época eu nunca presenciei uma situação de censura dentro do jornal”. 

Jorge Sanglard tinha forte atuação nos movimentos
estudantis na época da ditadura

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