Ismair Zaghetto foi o terceiro
jornalista a participar da série de entrevistas que a Comissão Municipal da
Verdade de Juiz de Fora (CMV-JF) vem realizando para tentar compreender as
relações entre imprensa e ditadura. Nascido em Juiz de Fora, ele foi
entrevistado no último dia 28. Dizendo ser um privilégio estar com 80 anos e
ter podido acumular tamanho aprendizado, Zaghetto recorda ter vivenciado, como
jornalista, momentos cruciais da história. Mas, apesar disso, ele sente
saudades da vida acadêmica, quando foi professor de sociologia e filosofia.
Juiz de Fora tinha dois grandes
jornais - o Diário Mercantil e o Diário da Tarde - quando ele começou a
trabalhar. Eram os impressos dos Diários Associados, nos quais Zaghetto chegou
a ser editor-geral. Segundo ele, os periódicos “encarnavam a tradução da cidade
de Juiz de Fora”. Para Zaghetto, “o jornalismo antigamente era diferente. Hoje,
formam-se comunicadores sociais”. Na sua época, os jornalistas eram
professores, médicos, engenheiros, que tinham o jornalismo como hábito e
escreviam amadoramente.
Ele lembra que, por conta da
proibição de algumas reportagens no período da censura, os editores passaram a
publicar matérias fora de contexto, como receitas de bolo. Era uma forma de
denunciar a censura vivida dentro das redações. Entre os casos rememorados,
está o de um amigo de redação, que acabou publicando matéria que havia sido
censurada. Ao chegar ao quartel, o jornalista teve a carteira profissional
rasgada pelo comandante.
"Uma farda sempre intimida", diz Ismair Zaghetto em entrevista à CMV-JF. |
De acordo com o jornalista, o
mais difícil na época da ditadura militar foi justamente a figura do censor na
redação. Conforme Zaghetto, esse profissional da censura era trocado
periodicamente para não criar laços de amizade com os jornalistas. “De algum
modo, em graus menores ou maiores, uma farda sempre intimida.” Mas a
autocensura também é apontada por ele como uma consequência: “A autocensura é
terrível, essa sensação (de se censurar) é terrível”.
Apesar da presença do censor nos
jornais, Zaghetto destaca que não existia nenhum arquivo oficial que proibia a
publicação de notícias, e o próprio jornal ficava incumbido de, cotidianamente,
registrar as novas proibições. Um dos fatos curiosos citados pelo jornalista
diz respeito à notícia de que o presidente Juscelino Kubitscheck havia
falecido. Os censores informaram que devia ser publicada, no entanto, com “meia
emoção”.
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